Um torneio global de futebol não é apenas uma celebração do espírito esportivo. Ele envolve logística em larga escala, bilhões em investimentos e uma coordenação de alto risco. Para os Estados Unidos, assumir o papel de anfitrião de dois eventos mundiais — a Copa do Mundo de Clubes de 2025 e a Copa do Mundo da FIFA de 2026 — é, ao mesmo tempo, uma honra e um empreendimento comercial.
Muito antes das cerimônias de abertura, os locais-sede já passam por anos de planejamento. Normalmente, algumas das tarefas mais complexas incluem a escolha dos estádios, a modernização dos sistemas de transporte, a implementação de esquemas de segurança, além do turismo e do marketing. Os orçamentos chegam facilmente à casa dos bilhões. Mas os retornos também são significativos, com receitas vindas do turismo, patrocínios e exposição internacional.
Os EUA já contam com uma série de estádios de classe mundial. No entanto, a maioria deles foi projetada para o futebol americano e o beisebol. Muitos desses espaços estão sendo adaptados para atender aos padrões da FIFA em relação ao tamanho do gramado, áreas para os torcedores e operações de mídia. Ao contrário de muitos países que já sediaram eventos semelhantes, os Estados Unidos não precisam construir estádios do zero — uma vantagem enorme do ponto de vista financeiro.

Por que a FIFA escolheu essas cidades
A FIFA selecionou uma combinação de cidades icônicas dos Estados Unidos, conhecidas por sua cultura esportiva, acessibilidade internacional e infraestrutura já consolidada. Cidades como Nova York, Nova Jersey, Los Angeles, Dallas, Atlanta e Miami estão entre as principais sedes.
Os critérios de seleção da FIFA se basearam em diversos fatores:
- Capacidade e prontidão dos estádios: Os estádios precisam ter mais de 40 mil lugares para jogos da Copa do Mundo e atender às especificações técnicas da FIFA.
- Conectividade aérea: O acesso internacional fácil é essencial.
- Centros de treinamento: As seleções precisam de locais de alto nível para treinar.
- Hospedagem: As cidades-sede devem ser capazes de receber um grande número de torcedores, dirigentes e profissionais da imprensa.
- Potencial de engajamento da torcida: As cidades foram escolhidas pela capacidade de atrair grandes públicos e criar uma atmosfera vibrante nas arquibancadas.
A distribuição geográfica — da Costa Oeste à Costa Leste e até o coração do Texas — foi proposital. A FIFA e os organizadores americanos querem que o torneio pareça inclusivo e acessível em todo o país. Isso reflete o tamanho e a diversidade dos Estados Unidos.s a reflection of the nation’s size and diversity.

Economia local e estádios
Governos locais veem esse tipo de evento como um poderoso motor de atividade econômica. As partidas geram alta ocupação hoteleira, aumento na visitação a restaurantes e estímulo ao turismo. Em Dallas, diversos jogos serão realizados no AT&T Stadium, que atualmente passa por adaptações para ampliar a capacidade e melhorar a experiência dos torcedores.
Os acordos envolvendo estádios costumam girar em torno de parcerias entre prefeituras, franquias esportivas e patrocinadores privados. Algumas cidades oferecem incentivos ou isenções fiscais para viabilizar as melhorias. Em certos casos, os municípios podem negociar taxas de uso e direitos comerciais diretamente com a FIFA. A ideia por trás desses acordos é garantir que os contribuintes locais não arquem sozinhos com todos os custos.
Os investimentos urbanos não se limitam às reformas dos estádios. Novas linhas de metrô, expansão de terminais e melhorias em áreas para pedestres são apenas alguns exemplos. Com isso, a cidade-sede consegue colher benefícios imediatos em forma de geração de empregos temporários nas áreas de construção, operação do evento, hotelaria, entre outros.
Mesmo cidades de menor porte, como Kansas City ou Houston, podem conquistar ganhos duradouros com a visibilidade global. Um processo de hospedagem mal executado, por outro lado, pode esfriar o turismo nos anos seguintes e afastar o interesse internacional. Também pode desperdiçar a infraestrutura esportiva criada, que poderia ser usada em futuros eventos.

Transmissão e planos de patrocínio
Quando se trata de megaeventos, é inegável que a mídia e o marketing sustentam sua grandeza financeira. A Copa do Mundo da FIFA de 2026, que será realizada em três gigantes — Estados Unidos, México e Canadá —, caminha para bater recordes de audiência no mundo todo. A FIFA já fechou acordos bilionários com diversas emissoras. Entre elas estão a FOX (Estados Unidos), a TelevisaUnivision (transmissão em espanhol) e outros grandes grupos internacionais.
Esses acordos não se limitam à transmissão ao vivo das partidas. Incluem também direitos de streaming digital, conteúdo para redes sociais e até documentários de bastidores. As emissoras estão apostando no rápido crescimento do público nos EUA, especialmente com mais clubes locais ganhando espaço e a expansão da MLS.
No campo dos patrocínios, foi criada uma posição extremamente cobiçada tanto por marcas globais quanto locais. Toda marca quer se associar a um dos maiores palcos esportivos do planeta. Nomes consagrados como Coca-Cola, Adidas, Visa e Budweiser já são parceiros da FIFA há anos. Agora, empresas americanas de tecnologia, companhias aéreas e plataformas de transporte por aplicativo também entraram no circuito. Os valores dos patrocínios variam de 10 milhões a mais de 100 milhões de dólares, dependendo da visibilidade e do nível de acesso oferecido.

A Copa do Mundo de Clubes serve como evento teste para muitos desses patrocínios. Ela permite que as marcas ajustem suas campanhas e logística antes do palco maior de 2026.
O que os EUA esperam ganhar com isso
Os Estados Unidos não estão sediando esses torneios apenas pela emoção. Trata-se de um investimento de longo prazo para se consolidar como um polo global do futebol. Em comparação com a Europa ou a América do Sul, o país ainda é relativamente novo no cenário do futebol. Mas agora, está se posicionando como um destino sério para o esporte.
Um dos objetivos claros é expandir a base de torcedores doméstica. Com milhões assistindo aos jogos em estádios lotados e na TV em horário nobre, a MLS espera aproveitar a onda de atenção. A participação de jovens no futebol já vinha crescendo, e a visibilidade desses torneios pode acelerar ainda mais essa tendência.
No aspecto econômico, os EUA esperam gerar bilhões em receitas com venda de ingressos, turismo e acordos comerciais internacionais. As cidades também esperam que essa visibilidade resulte em novas oportunidades — de shows a candidaturas olímpicas, passando por outras ligas esportivas.
Culturalmente, trata-se de reputação. Sediar torneios globais com sucesso mostra que os Estados Unidos podem liderar no palco internacional. E não apenas no basquete ou no futebol americano, mas também no esporte mais popular do mundo. É uma mensagem sobre capacidade organizacional, hospitalidade e abertura cultural.
Para a FIFA, a parceria com os EUA também é estratégica. O mercado americano oferece a maior base de fãs ainda não explorada, além de potenciais investidores e anunciantes. Com a Copa do Mundo de 2026 ampliada para 48 seleções (em vez de 32), os Estados Unidos também oferecem a escala e os recursos necessários para dar conta de uma expansão tão ambiciosa.
Um investimento de alto risco no esporte mais amado do mundo
Os EUA não estão apenas recebendo o mundo para assistir ao futebol. Estão transformando o jogo em uma história de sucesso comercial. Cada elemento da organização é cuidadosamente planejado e monetizado. À medida que a Copa do Mundo de Clubes aquece o terreno para a Copa do Mundo de 2026, o país mostra que é capaz de unir paixão e planejamento para entregar espetáculos inesquecíveis.
Esses eventos deixarão um impacto duradouro. Não só dentro de campo, mas também na cultura esportiva americana, nos negócios internacionais e no futuro do futebol nos EUA. O negócio de sediar está em pleno funcionamento — e os Estados Unidos estão fazendo isso funcionar.