A final da UEFA Euro 2000 foi, sem dúvida, um dos capítulos mais emocionantes e inesquecíveis da história do futebol internacional. O duelo aconteceu em 2 de julho de 2000, em Roterdã, na Holanda, e reuniu dois gigantes com uma longa e orgulhosa tradição futebolística em um verdadeiro combate de titãs: França e Itália.
O que tornou a final ainda mais especial foi o fato de o gol de ouro estar em vigor: o primeiro time a marcar na prorrogação venceria a partida. Essa regra, no entanto, raramente havia sido aplicada em finais de grandes torneios, e a Euro 2000 proporcionou ao público uma lembrança única, já que a França empatou no último minuto do tempo regulamentar e venceu com um gol de morte súbita inesquecível.
Vamos relembrar toda a magia, a dor e os momentos marcantes que transformaram essa final em uma lenda.
O que era a regra do Gol de Ouro?
Criada pela FIFA nos anos 1990, a regra do gol de ouro surgiu com o propósito de trazer mais emoção à prorrogação. Nesse sistema, se uma equipe marcasse um gol no tempo extra, a partida terminaria instantaneamente — da mesma forma que a regra da “morte súbita” em outros esportes.

A ideia era incentivar o jogo ofensivo e evitar que as partidas fossem para os pênaltis. No entanto, a regra foi polêmica e acabou abolida em 2004. Mas antes disso, decidiu uma das finais mais emocionantes da história da Eurocopa – a da Euro 2000.
O Caminho até a Final: França e Itália
Tanto a França quanto a Itália chegaram ao torneio com elencos fortíssimos. A França vinha como atual campeã da Copa do Mundo de 1998, com craques como Zidane, Henry, Vieira e Deschamps. Essa combinação de experiência e juventude a colocava como favorita. Já a Itália tinha uma defesa sólida, com Maldini, Cannavaro e Nesta. No ataque, nomes como Francesco Totti e Marco Delvecchio traziam criatividade e talento.

A França chegou à final derrotando Portugal na semifinal, com um gol de ouro de pênalti marcado por Zidane. A Itália, por sua vez, passou pela Holanda nos pênaltis após um empate sem gols, em uma partida em que jogou boa parte do tempo com dez homens.
A Final: França x Itália
Com mais de 50 mil torcedores no Estádio De Kuip, em Roterdã, a final foi disputada com intensidade do início ao fim, mostrando todo o talento das duas seleções.
Primeiro Tempo: Um Duelo Equilibrado
O primeiro tempo foi equilibrado. A França teve mais posse de bola, com Zidane comandando as ações no meio-campo, enquanto a Itália buscava o contra-ataque. Nenhuma das equipes conseguiu balançar as redes, e o placar ficou em 0 a 0 no intervalo.
Segundo Tempo: A Itália Sai na Frente
Aos 55 minutos, a Itália abriu o placar. Gianluca Pessotto cruzou rasteiro, Francesco Totti desviou de calcanhar, e Marco Delvecchio finalizou com precisão, colocando os italianos em vantagem por 1 a 0.
A Itália passou a defender com sua disciplina característica, frustrando os atacantes franceses. Fabio Cannavaro e Paolo Maldini foram impecáveis ao neutralizar Henry e David Trezeguet. À medida que o relógio avançava, tudo indicava que a Itália seria campeã.

Drama nos Acréscimos: O Gol de Wiltord
Mas o futebol pode ser cruel. E mágico. Aos 49 minutos do segundo tempo, praticamente no último lance do jogo, a França empatou. Sylvain Wiltord recebeu a bola pelo lado esquerdo da área e chutou de canhota, rasteiro, no canto de Francesco Toldo. A bola passou por baixo do goleiro e morreu no fundo da rede.
Estava 1 a 1. A França havia se salvado da derrota iminente, e a partida foi para a prorrogação.
Glória do Gol de Ouro: O Momento Dourado de Trezeguet
Com a regra do gol de ouro em vigor, a tensão era imensa – qualquer gol encerraria a partida imediatamente. Impulsionada pelo empate, a França foi para cima. A Itália, atônita e exausta, tentava resistir. Então veio o momento que selou o destino do torneio.
Aos 103 minutos, o meio-campista francês Robert Pirès fez uma arrancada espetacular pela esquerda. Ele driblou seu marcador e cruzou a bola para o meio da área. David Trezeguet estava à espera e, de primeira, finalizou de canhota. A bola explodiu no ângulo superior da rede. Gol. Fim de jogo. A França era campeã.
Os jogadores e torcedores franceses explodiram em alegria. Os italianos caíram no gramado, incrédulos. Aquele gol trouxe um dos desfechos mais dramáticos de uma final na história do futebol.
A final da Euro 2000 é lembrada como uma das maiores decisões da história da Eurocopa por vários motivos. A França também se tornou a primeira seleção a conquistar a Copa do Mundo (1998) e a Euro (2000) desde a Alemanha Ocidental, em 1972 e 1974. Foi a confirmação de seu status como a equipe dominante daquela era.

Consequências e Legado
Para a França, o triunfo consolidou a sua “geração de ouro”. Zidane, Deschamps, Henry e Trezeguet tornaram-se ícones nacionais. Para a Itália, a derrota foi devastadora. Eles estavam a segundos da glória, e a perda inesperada abalou jogadores e torcedores. Mas, apenas seis anos depois, em 2006, os italianos se consagrariam campeões mundiais.
A final da Euro 2000 também desencadeou um debate sobre a regra do gol de ouro. Embora criasse drama, críticos afirmavam que era injusta, pois não dava à outra equipe a chance de responder. Posteriormente, a UEFA e a FIFA optaram pelo modelo padrão de 90 minutos com prorrogação e pênaltis, se necessário.
Um Momento Dourado na História do Futebol
A final da Euro 2000 foi mais do que uma partida. Foi uma narrativa épica de resistência e drama. O gol de ouro da França mostrou por que o futebol é chamado de “o esporte mais bonito do mundo”.
Em um jogo repleto de craques, batalhas táticas e enorme carga emocional, foi a finalização de voleio de esquerda de David Trezeguet que decidiu o destino e entrou para a história. A regra do gol de ouro já não existe, mas seu legado permanece como um dos maiores momentos de todas as finais.