Desde que a revista francesa France Football criou a Bola de Ouro em 1956, o prêmio se tornou o mais prestigiado reconhecimento individual do futebol mundial. Inicialmente restrito a jogadores europeus, a partir de 1995 atletas de qualquer nacionalidade passaram a concorrer, desde que atuassem em clubes da Europa. E foi aí que o Brasil, que justamente por conta desse motivo nunca viu Pelé levar a honraria, começou a escrever sua história na premiação.
Após um começo promissor com Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, que levaram cinco prêmios ao todo, o país atravessa um jejum de quase duas décadas sem uma Bola de Ouro sequer.
Mas por que essa seca? Para começar a responder essa pergunta, vale recordar como o quarteto, que disputou junto duas Copa do Mundo (2002 e 2006) e brilhou no futebol europeu, conseguiu chegar ao topo do futebol mundial.
- Ronaldo Nazário – 1997 e 2002
O “Fenômeno” é o único brasileiro bicampeão da Bola de Ouro. Em 1997, atuando pela Internazionale de Milão, Ronaldo encantou o mundo com sua explosão, dribles e gols. Naquele ano, somou 59 gols em 70 partidas, somando atuações por Barcelona, Inter e Seleção Brasileira.
Em 2002, após superar graves lesões que quase encerraram sua carreira precocemente, Ronaldo mostrou uma resiliência ímpar e foi o protagonista da conquista do pentacampeonato mundial. Com 8 gols na Copa do Mundo, incluindo dois na final contra a Alemanha, ele selou sua redenção e garantiu

- Rivaldo – 1999
O meia-atacante iniciou sua carreira na Europa no La Coruña, mas foi em Barcelona onde brilhou intensamente. Na temporada, marcou 24 gols na La Liga, foi campeão espanhol e liderou o Brasil na conquista da Copa América, sendo artilheiro e melhor jogador do torneio. Sua versatilidade, inteligência tática e classe o colocaram no topo do mundo.

- Ronaldinho Gaúcho – 2005
O “Bruxo” encantou o planeta com sua magia. Pelo Barcelona, conquistou o Campeonato Espanhol e a Supercopa, além de vencer a Copa das Confederações com o Brasil. Na temporada, foi artilheiro da Champions League com 10 gols, mesmo atuando mais como um meia armador. Seus dribles e a alegria de jogar viraram símbolo de sua genialidade.

- Kaká – 2007
O último brasileiro a vencer a Bola de Ouro. Pelo Milan, Kaká foi um dos comandantes da conquista da Champions League, sendo o artilheiro da competição com 10 gols. Na temporada 2006/07, ele disputou 48 partidas, marcou 19 gols e deu 9 assistências pelo clube italiano. Sua elegância em campo, visão de jogo e capacidade de decidir grandes partidas encantaram o planeta. Desde então, o Brasil não voltou ao topo da premiação.

Ballon d’Or x Fifa The Best: Duas coroas, um trono
Mas para entender esse jejum, é necessário antes explicar que as diferenças entre o Ballon d’Or, organizado pela France Football, e o FIFA The Best, instituído pela Fifa.
A entidade máxima do futebol mundial criou seu próprio prêmio em 1991, o FIFA World Player, que coexistiu até 2009, e que teve o atacante brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid, como vencedor na temporada passada. Entre 2010 e 2015, os dois se fundiram no FIFA Ballon d’Or, mas em 2016 houve a separação definitiva.

Hoje, a FIFA entrega o The Best FIFA Football Awards, enquanto a France Football mantém a Bola de Ouro. A principal diferença está nos critérios e no colégio eleitoral:
- Bola de Ouro: votado por jornalistas especializados.
- FIFA The Best: votado por técnicos, capitães de seleções, jornalistas e torcedores.
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Ambos consideram desempenho individual, títulos conquistados e impacto técnico. No entanto, a Bola de Ouro mantém maior prestígio histórico e é vista como o “Oscar” do futebol.

O “duopólio” Messi-Cristiano Ronaldo
Uma das razões para esse drama quase cinematográfico de 18 anos sem uma Bola de Ouro foi o domínio absoluto do português Cristiano Ronaldo e do argentino Lionel Messi, que juntos venceram 13 das 15 edições seguintes a de Kaká, em 2007.
- Messi: 8 (2009, 2010, 2011, 2012, 2015, 2019, 2021, 2023)
- Cristiano Ronaldo: 5 (2008, 2013, 2014, 2016, 2017)
A hegemonia dos dois craques, atuando em clubes de elite e mantendo números absurdos de gols e assistências, ofuscou talentos brasileiros como Neymar e Philippe Coutinho que, embora brilhantes, não conseguiram competir em regularidade e impacto global. Neymar, inclusive, chegou a figurar entre os três melhores em 2015 e 2017, mas nunca venceu.

Vinicius, Raphinha… a nova geração pode mudar esse cenário?
Mas qual a possibilidade de o Brasil voltar a brilhar no Ballon D’or? No ano passado, Vinicius Junior ficou atrás de Rodri, do Manchester City, o que gerou algumas polêmicas. Já na atual edição, em 2025, Raphinha, do Barcelona, terminou em quinto lugar na Bola de Ouro, mas seus números no Sofascore foram superiores aos dos quatro primeiros colocados. Ele foi eleito melhor jogador da temporada tanto na La Liga quanto na Champions League.
- La Liga: 7.80
- Champions League: 8.24
Na temporada, Raphinha marcou 34 gols e deu 25 assistências em 57 jogos, conquistando a La Liga e a Copa do Rei. Apesar disso, não levou o troféu, evidenciando o peso da subjetividade na votação da France Football.
>> Ballon d’Or vs. Nota Sofascore. Quem deveria ter vencido?

Outro nome que começa a despontar é Estêvão Willian, ex-Palmeiras e atualmente no Chelsea. Com apenas 18 anos, ele foi indicado ao Troféu Kopa, prêmio dado ao melhor jogador sub-21 do mundo. Estêvão brilhou no Mundial de Clubes pelo Palmeiras e já começou a mostrar seu talento na Premier League. Sua média de avaliação no Sofascore é de 7.2, e sua projeção técnica e maturidade o colocam como um nome a ser observado nos próximos anos.
Reflexo de um Futebol em Transição
Esse jejum brasileiro na Bola de Ouro é sintomático. Reflete não apenas a ascensão de Messi e Cristiano, mas também a ausência de brasileiros em clubes dominantes da Europa. A globalização do futebol levou talentos para diversos países, mas poucos conseguiram se firmar como protagonistas absolutos.
Raphinha é um bom exemplo, pois somente aos 28 anos conseguiu se firmar em um grande clube europeu após anos brilhando em clubes e ligas menores.
É possível que o Brasil volte a ter uma Bola de Ouro? Sim. Mas é preciso consistência, protagonismo em grandes competições e presença em clubes de elite. Enquanto isso, a nação que teve Pelé, chamado de Rei e considerado o melhor jogador de todos os tempos, continua sonhando. Afinal, se há um país que sabe produzir craques, é o Brasil.